PRIMEIRO MANIFESTO DIGITALISTA
Vemos que a arte padece nos
nossos dias. Não só ela, mas instituições milenares, a exemplo da família e de
algumas religiões. Por outro lado, percebemos que novas manifestações crescem
com toda a força, como o fenômeno da internet. Há qualquer coisa desajustada
entre as percepções de tecnologia e de arte, neste
momento; algo como se elas fossem distantes, talvez até mesmo desconhecidas.
O Digitalismo surge como um grito
de protesto e um apelo ao despertar em meio à letargia geral da arte. Isso
porque ela agoniza e não pede socorro. Nem mesmo se socorre.
O que poucos perceberam ou ao
menos levaram a sério até então é a tendência completamente natural de fusão
entre as manifestações artísticas e a internet. E elas, neste momento da
história, dão-se as mãos. Nesse sentido, o movimento digitalista vem também
para sistematizar esses acontecimentos. Para ele, não só a folha de papel, as
paredes de uma construção, o cd, o dvd ou a pedra bruta são considerados os
“locais” de produção. Para nós e para nossos contemporâneos, a tela, do
computador ou da tevê, é o grande local do fazer artístico. Nesse sentido, o
designer, o músico independente, o fotógrafo, o poeta digital e o desenhista
digital, para citar alguns exemplos, adquirem importância única.
Passamos do papiro ao papel e,
agora, do papel para a tela. Porém o que ocorre não é só uma mudança de
plataforma; isso porque a plataforma agora transforma a maneira de se realizar
a arte. Valorizamos essa tendência em todas as suas possibilidades. O advento
da internet não só trouxe uma nova maneira de difusão da cultura, marcada pela
velocidade, como também resultou em diferentes formas de viver, sentir, pensar,
divulgar a arte, fazer política e denunciar as mazelas sociais. A sociedade
inventou a internet e a internet está reinventando não só a sociedade em geral,
como também a expressão artística.
As antigas editoras podem não
morrer, mas já agonizam. O e-livro, o audiolivro, as pinturas em programas de
computador, os músicos que se lançam por canais de vídeos na internet, as
animações em computador, tudo isso constitui uma nova realidade: inevitável,
irrefreável. Negar tal fato seria nadar contra uma correnteza
que já afogou a velha arte.
Em termos técnicos, é possível e
mesmo uma tendência agora a união entre diversas formas de arte em uma só obra.
“A névoa”, por exemplo, de autoria de Fernando Sales (Professor Fernando
Letras) une poesia, imagem e som; em outros casos, há a união entre poesia,
pintura e música. Nada impede, inclusive, uniões com o teatro e com a escultura
digital.
Desse modo, o Digitalismo emerge
como um universo no qual as oportunidades se multiplicam. E se, antes, o
artista sofria para publicar sua obra, em virtude da sua condição financeira ou
da conjuntura editorial ou política, hoje basta acessar a rede para divulgar
sua criatividade. Por conseguinte, o artista digital encontra mais chances para
o reconhecimento de sua obra, diferentemente do que ocorreu, por exemplo, com
José Joaquim de Campos Leão, o Qorpo-Santo, dramaturgo gaúcho que viveu no
século XIX, mas cuja obra foi reconhecida apenas a partir da segunda metade do
século XX.
Nossa época, ao contrário,
permite o reconhecimento instantâneo, o contato imediato e frequente entre o
artista e seu público. As novas livrarias encontram-se todas na tela; as
exposições também; o músico não precisa mais de uma gravadora e um cd inteiro
para se lançar, com uma música isso já é possível e imediato; toda peça teatral
é agora um pouco de cinema, quando publicada na internet. Vivemos uma nova
realidade em que cada um e todos reconstroem o sentido artístico, o ser e o
estar no mundo. Digitalismo é o nome dessa expressão.
Aquinno
dos Reis e Fernando Sales (Professor Fernando Letras)