domingo, 31 de maio de 2015

Primeiro Manifesto Digitalista - Fernando Sales e Aquinno dos Reis

PRIMEIRO MANIFESTO DIGITALISTA

Vemos que a arte padece nos nossos dias. Não só ela, mas instituições milenares, a exemplo da família e de algumas religiões. Por outro lado, percebemos que novas manifestações crescem com toda a força, como o fenômeno da internet. Há qualquer coisa desajustada entre as percepções de tecnologia e de arte, neste momento; algo como se elas fossem distantes, talvez até mesmo desconhecidas.
O Digitalismo surge como um grito de protesto e um apelo ao despertar em meio à letargia geral da arte. Isso porque ela agoniza e não pede socorro. Nem mesmo se socorre.
O que poucos perceberam ou ao menos levaram a sério até então é a tendência completamente natural de fusão entre as manifestações artísticas e a internet. E elas, neste momento da história, dão-se as mãos. Nesse sentido, o movimento digitalista vem também para sistematizar esses acontecimentos. Para ele, não só a folha de papel, as paredes de uma construção, o cd, o dvd ou a pedra bruta são considerados os “locais” de produção. Para nós e para nossos contemporâneos, a tela, do computador ou da tevê, é o grande local do fazer artístico. Nesse sentido, o designer, o músico independente, o fotógrafo, o poeta digital e o desenhista digital, para citar alguns exemplos, adquirem importância única.
Passamos do papiro ao papel e, agora, do papel para a tela. Porém o que ocorre não é só uma mudança de plataforma; isso porque a plataforma agora transforma a maneira de se realizar a arte. Valorizamos essa tendência em todas as suas possibilidades. O advento da internet não só trouxe uma nova maneira de difusão da cultura, marcada pela velocidade, como também resultou em diferentes formas de viver, sentir, pensar, divulgar a arte, fazer política e denunciar as mazelas sociais. A sociedade inventou a internet e a internet está reinventando não só a sociedade em geral, como também a expressão artística.
As antigas editoras podem não morrer, mas já agonizam. O e-livro, o audiolivro, as pinturas em programas de computador, os músicos que se lançam por canais de vídeos na internet, as animações em computador, tudo isso constitui uma nova realidade: inevitável, irrefreável. Negar tal fato seria nadar contra uma correnteza que já afogou a velha arte.
Em termos técnicos, é possível e mesmo uma tendência agora a união entre diversas formas de arte em uma só obra. “A névoa”, por exemplo, de autoria de Fernando Sales (Professor Fernando Letras) une poesia, imagem e som; em outros casos, há a união entre poesia, pintura e música. Nada impede, inclusive, uniões com o teatro e com a escultura digital.
Desse modo, o Digitalismo emerge como um universo no qual as oportunidades se multiplicam. E se, antes, o artista sofria para publicar sua obra, em virtude da sua condição financeira ou da conjuntura editorial ou política, hoje basta acessar a rede para divulgar sua criatividade. Por conseguinte, o artista digital encontra mais chances para o reconhecimento de sua obra, diferentemente do que ocorreu, por exemplo, com José Joaquim de Campos Leão, o Qorpo-Santo, dramaturgo gaúcho que viveu no século XIX, mas cuja obra foi reconhecida apenas a partir da segunda metade do século XX.
Nossa época, ao contrário, permite o reconhecimento instantâneo, o contato imediato e frequente entre o artista e seu público. As novas livrarias encontram-se todas na tela; as exposições também; o músico não precisa mais de uma gravadora e um cd inteiro para se lançar, com uma música isso já é possível e imediato; toda peça teatral é agora um pouco de cinema, quando publicada na internet. Vivemos uma nova realidade em que cada um e todos reconstroem o sentido artístico, o ser e o estar no mundo. Digitalismo é o nome dessa expressão.



                                                          Aquinno dos Reis e Fernando Sales (Professor Fernando Letras) 

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